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Fátima e Cultura
Em primeiro lugar, queremos agradecer o amável convite que nos foi feito. Em respeito a estes dois princípios, a abordagem do tema cultura, sem grandes divagações, passa por analisar, numa perspectiva evolutiva, a aquisição de conhecimentos, a informação e difusão de saberes adquiridos e a divulgação da cultura tradicional. A cultura, neste ponto de vista, pode ser entendida como o complexo de actividades, instituições e padrões sociais ligados à criação e difusão das mais diversas formas de arte e ciências humanas, ou ainda como o conjunto de conhecimentos acumulados e socialmente valorizados que constituem o património da sociedade. Em qualquer dos casos, a questão passa sempre pela criação de redes de ensino e instrumentos de informação, comunicação e divulgação. Este é o papel destinado à escola, à família, ao Estado e aos cidadãos através de iniciativas individuais, agrupados em associações ou sociedades de índole comercial. Reduzido o conceito de cultura, em sentido lato, à sua forma mais simples e identificados os meios de divulgação, ao focar o caso de Fátima, como se pedia, diremos que não vemos diferenças, face aos elementos disponíveis, em relação ao que se passa a nível nacional, que em termos europeus nos coloca no embaraçoso último lugar, com excepção do parágrafo seguinte, que abarca todo o concelho. Pela positiva, a título de exemplo, refiram-se a Associação de Artistas e Artesãos Oureenses, a recém criada Confraria Gastronómica da Morcela do Arroz da Alta Estremadura, a Escola de Órgão do Santuário e Grupo Coral, o Conservatório de Música de Ourém, a Ourearte – Escola de Música e Artes de Ourém, a Academia de Música Banda de Ourém, a Orquestra Típica com Escola de Dança, Grupo Musical “Os Romeiros” e Orquestra de Sopros, a Sociedade Filarmónica Oureense, a Banda de Vilar dos Prazeres, agrupamentos com iniciativas na área do teatro, casos de Seiça e Pêras Ruivas, ranchos folclóricos, escola de dança Tutu Ballet e todo um conjunto de iniciativas patrocinadas pelo Departamento de Educação, Desporto e Cultura da Câmara Municipal que vão da música, à gastronomia, ao teatro, à feira do livro, ao cinema, etc. Refira-se ainda, em Fátima, a quantidade e qualidade dos meios de ensino, desproporcionais à população residente, apesar de todos privados. Factor mais preocupante, na freguesia, embora consequência directa da sociedade heterogénea, em formação e com elevada taxa de crescimento, em que nos inserimos, é a falta de líderes disponíveis para mobilizar a sociedade civil para a área da cultura, ao contrário do que se passa com o desporto, futebol e atletismo, e associações humanitárias e de solidariedade social, como os Bombeiros e CRIF, entre outras. É certo que a cultura não dá votos… As pessoas vivem demasiado viradas para dentro. As causas colectivas, a cultura especialmente, precisam dos tais “carolas”, autêntico fermento que faça a massa levedar. Passando dos conceitos e considerandos à parte pedagógica, gostávamos de alertar os jovens para o facto de, que no futuro, as oportunidades, a realização profissional e pessoal, estão directamente dependentes da aquisição e da utilização dos conhecimentos adquiridos. A competitividade que existe em todas as áreas exige conhecimentos e actualização permanente. Nunca se sabe tudo… Já o meu avô, com 86 anos, dizia: “Gostava de voltar aos meus vinte anos, saber o que sei hoje, que ainda tinha muito que aprender.” Era uma forma simples, mas elucidativa, de defesa da formação profissional permanente, e que hoje está na ordem do dia. Elevada que foi a questão da gastronomia à categoria de cultura, é oportuno lembrar que ao consumir pizzas, desculpa lá Fernando Pinho, hamburgers, ou outro tipo de “fast-food”, além das questões que se prendem com a saúde, estamos a atentar contra o nosso património cultural. Com este remate gastronómico, fica um alerta para os perigos da globalização e para a necessidade de defesa, sem fundamentalismos, dos nossos valores culturais.
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