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Amor é fogo que arde
A propósito da pintura de Peter Blake abaixo reproduzida, intitulada “Amor é fogo que arde”, alguns alunos da disciplina de Português do 12º Ano, sem conhecerem a contextualização da imagem, foram “desafiados” a escrever um pequeno texto de interpretação da mesma. Escolhemos três.
Amor é fogo
que arde sem se ver (Luís de Camões)
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
O Sol e a Lua
FRCHM (12ºA)
O mundo separa, a vida afasta, a cidade distancia! Em lados opostos do mundo pode prevalecer o amor. O amor não escolhe nacionalidades, não escolhe raças; o amor simplesmente acontece…
Na impossibilidade de uma presença física, algo de espiritual acaba por ficar. Naquela cidade onde se conheceram, naquele sítio onde tudo aconteceu…e a lembrança acabará por levá-los, nos momentos parados do dia e no silêncio da noite, ao encontro um do outro, em que dão as mãos e tudo parece tão real, tão presente.
Passam dias, passam meses, passam anos…e sempre algo os faz voltar, há sempre alguma coisa que os faz dizer “tenho saudades…”. A saudade dói, magoa e perturba…a saudade pode nunca passar. As pessoas entram e saem da nossa vida…marcam-nos, modificam-nos e fazem-nos crescer…as pessoas afastam-se, mas as importantes permanecem para sempre em nós. Amor, amizade…há sempre qualquer coisa que nos aproxima…não interessa o quê, não interessa porquê…desde que exista, é suficiente!
Dois lados, duas faces...
Marta Maria, 12º A
Ao encarar a imagem pela primeira vez, fez-me lembrar de imediato uma música de Rui Veloso – “O teu lado lunar”. Por vezes, temos a sensação de que as pessoas que nos rodeiam, ou mesmo nós próprios, possuímos dois lados, duas faces… E perante situações diferentes, estas faces apresentam-se como sendo completamente distintas, como a noite do dia, e tão distantes como duas cidades em pólos opostos. Contudo, apesar de nos sentirmos confusos e divididos, não deixamos de ser uma única pessoa, pelo que no mais fundo e mais íntimo de nós mesmos existe sempre um ponto comum a estes dois lados, simbolizado pelo contacto das mãos na imagem.
Deste modo “toda a alma tem uma face negra” representada na pintura de Peter Blake pela noite, uma face oculta, misteriosa e mágica como o luar, que vai muito além daquilo que demonstramos… Tal como Rui Veloso a descreve, é a “arca escondida debaixo do chão, o túnel secreto, a loja de horrores”.
Por outro lado, é a mesma força do amor, que resiste à distância e supera as diferenças, que nos permite desvendar esta face camuflada pelo nosso lado feliz, e compreender “as poeiras de sonhos e dúvidas de amor” que possa esconder.
Afinal os opostos sempre se atraem..
Antonieta e João Carita, 12º A
A pintura de Peter Blake reflecte a afinidade, a conexão, a harmonia, e até mesmo o amor, que elementos diferentes podem ter. Num extremo da pintura, as cores vivas expõem uma maior luminosidade, alegria, no lado oposto a imagem é mais sombria, discreta...
Esta imagem demostra que é possível, real, verdadeiro a compatibilidade e até mesmo o amor entre desiguais.
Vejamos, hoje em dia, a nossa sociedade vive na diferença, e muitas vezes para a Diferença. Contudo, o contacto constante entre opostos faz com que seja credível, tal como demostra a imagem, uma convivência saudável com laços de grande intimidade e união.
A capacidade de ultrapassar esta barreira de contrastes é URGENTE nos dias de hoje. Temos de ser capazes de fundir“o sol” com a “lua”, o “amarelo” com o “negro” de modo a enfraquecer os preocupantes preconceitos da actual sociedade.
Infelizmente quase só podemos deslumbrar de tal mundo nas ilusões de Peter Blake, esquecendo-nos que a tão aclamada frase “os opostos atraem-se” é possível, se o Homem quiser.
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