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Gabinete de Piscologia e Orientação

Pais/filhos – Tempos de desafio


DEUS ABENÇOE
OS PAIS “MAUS”O Psicólogo Manuel Carreira animador dos Encontros com os Pais

(Texto lido na Reunião de Pais subordinada ao tema “Educar para os Afectos – Conflitos Geracionais”)

Um dia quando os meus filhos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e as mães, eu hei-de dizer-lhes:

• Eu amei-vos o suficiente para ter perguntado onde iam, com quem iam e a que horas regressariam.

• Eu amei-vos o suficiente para não ter ficado em silêncio e fazer com que vocês soubessem que aquele novo amigo não era boa companhia.

• Eu amei-vos o suficiente para vos fazer pagar as pastilhas elásticas que “tiraram” do supermercado ou as revistas do quiosque e obrigar-vos a dizer ao dono: “Nós roubámos a revistas do quiosque e queríamos pagar”.

• Eu amei-vos o suficiente para ter ficado de pé junto de vocês duas horas, enquanto limpavam o vosso quarto, tarefa que eu teria feito em quinze minutos.

• Eu amei-vos o suficiente para vos deixar assumir a responsabilidade das vossas acções, mesmo quando as penalizações eram tão duras que me partiam o coração.

• Mais do que tudo, eu amei-vos o suficiente para vos dizer NÃO, quando eu sabia que vocês poderiam odiar-me por isso (e momentos houve que me odiaram).

Essas eram as mais difíceis batalhas de todas. Estou contente, venci… Porque afinal, vocês venceram também. E um dia qualquer, quando os meus netos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e as mães, quando lhes perguntarem se os seus pais eram maus, meus filhos responderão: “Sim! Os nossos pais eram os piores do mundo”:

• As outras crianças comiam guloseimas ao pequeno-almoço e nós tínhamos de comer cereais, leite e ovos.

• As outras crianças bebiam coca-cola e comiam batatas fritas ou gelados ao almoço, e nós tínhamos de comer sopa, arroz, feijão, peixe, hortaliça e fruta. Eles obrigavam-nos a jantar à mesa, enquanto os outros pais deixavam os seus filhos comerem vendo televisão.

• Eles insistiam em saber sempre onde estávamos a qualquer hora do dia ou da noite. Insistiam que lhes disséssemos com quem íamos sair, mesmo que demorássemos pouco tempo. Era quase uma prisão. Eles tinham que saber quem eram os nossos amigos e o que fazíamos com eles.

• Nós tínhamos vergonha de admitir, mas eles “violavam as leis reguladoras do trabalho infantil”: Nós tínhamos de tirar a louça da mesa e lavá-la, aprender a cozinhar, arrumar os nossos quartos, esvaziar o lixo e fazer todo o tipo de trabalho que achamos cruel.

• Eles insistiam sempre connosco para que lhes disséssemos a verdade e apenas a verdade. E quando éramos adolescentes, eles até conseguiam ler os nossos pensamentos.

• A nossa vida era mesmo uma chatice. Eles não deixavam que os nossos amigos tocassem a buzina do carro para sairmos: tinham de subir e bater à porta para eles os conhecerem. E enquanto com 12 anos eles podiam regressar de madrugada, nós tivemos de esperar pelos 16 para chegar um pouco mais tarde, e aqueles chatos ainda se levantavam para saber se a festa foi boa, só para verem como estávamos ao regressar.

Por causa dos nossos pais, perdemos imensas experiências na adolescência: nenhum de nós está envolvido em drogas, roubos, actos de vandalismo, violação de propriedade alheia, nem fomos presos por nenhum crime.

Agora que já somos adultos, honestos e educados, estamos a fazer o nosso melhor para sermos “Pais Maus”, como eles foram.

Achamos que este é o maior dos males de hoje: “NÃO HÁ SUFICIENTES PAIS MAUS”.